Pode-se afirmar, sem dúvidas, que
para os fãs de HQs, o recém-terminado ano de 2014 (uhu, sobrevivemos!) foi da
confirmação da relevância para o mercado cinematográfico das adaptações dos
quadrinhos. Com filmes tão diferentes entre si como Capitão América 2, X-Men –
Dias de um Futuro Esquecido e Guardiões da Galáxia, sendo sucessos de público, critica e com retorno financeiro, as perspectivas para
2015 e pelos demais anos são gigantes. Hollywood encontrou sua nova mina de
ouro e vai abusar até não poder mais. E isso pode ser muito bom...e ruim.
Explico. Calma fanboy. Com o
anúncio em 2014 da DC/WB e Marvel Studios das datas de seus próximos filmes,
além de contarmos no balaio de gato Sony, Fox e Paramout, de adaptações para
tela grande, podemos aguardar até 2020 – cinco míseros anos que passam rápido –
o total de 32 filmes. A cada dois meses uma nova estreia, meus amigos. Haja
superpoderes de multiplicação de “larjan” para comprar ingressos.
Ah, já estava esquecendo as
séries de TV! Sim, em 2014, tivemos a engrenagem da Agents of Shield – pode abrir o sorriso ao ler esse texto maravilhoso
no Judão
http://migre.me/nRYpI - uma Gothan
apresentando um Pinguim psicopata e um Flash para fazer cia para Arrow no
universo renegado pela WB da CW. 2015 é a vez da Netflix entrar na brincadeira
com meu ceguinho preferido Demolidor, preparando o terreno para o “assemble” Defensores
além, claro, de Hayley Atwell quebrar nossos corações nas férias nesse inicio
de janeiro como Agent Carter.
Você que é bom de matemática,
caro leitor, diferentemente deste que lhes escreve, conhece muito bem
probabilidade. Com tantos filmes, adaptações para TV e universos interligados,
a chance de algo não sair tão bom é bem real. Estamos falando de você,
Espetacular Homem Aranha. Esse é o lado ruim desse boom. Com o Aranha abatido,
o que esperar da reunião do Sexteto Sinistro para 2016? Isso me faz recordar da
mãozinha do Esqueleto aparecendo no final do Masters of Universe. Estou até hoje
esperando a continuação.
O lado bom da coisa é que mesmo
após bombas como Lanterna Verde, um reboot já nos aguarda lá para 2020. Dá
tempo suficiente para esquecer o Ryan Reynolds. Até ele fazer Deadpool. Além
disso, vejam quantos personagens listados até agora. Quando teríamos a
possibilidade de ver algo do tipo que só tínhamos em nossa imaginação de pura
nerdice torna-se realidade? Vocês não sabem como vibrei ao saber que Christian
Bale tinha sido escolhido para viver Bruce Wayne! Agora estamos vivendo e
sentindo isso toda a semana. E é bom pra cacete, vai.
Todas essas preliminares, além de
servirem para abalar a fuselagem segundo o dileto Mumuzinho, podem nos ajudar a
entender a possibilidade da Marvel Studios, que tem total controle de seus
filmes a partir do longínquo ano de 2008, estar diante de seu primeiro revés
chamado Homem-Formiga.
Digo isso porque dessa budega
chamada herói, a Marvel está ganhando de 7x1 dos outros. Tanto Fox e Sony
patinam feio em seus lançamentos enquanto a casa das ideias ganha de braçada.
Com planejamento, a nova amiga do Mickey Mouse parece ter tudo nas mãos. Cada cena
pós-crédito é um gancho para as futuras continuações e para todo seu universo. Enquanto
a DC/WB faz uma lista de seus novos filmes para acionistas em uma reunião
fechada, a Marvel chama imprensa e fãs, fecha um cinema em LA, apresenta novas
datas em um telão além de chamar ao palco Robert Downey Jr, Chris Evans para representar
o novo filme do Capitão. De quebra, anuncia Chadwick Boseman como Pantera
Negra. Não é pouca coisa.
Justamente pela competência da
Marvel, tudo que ronda a produção, as escolhas de casting e lançamento de Homem-Formiga é muito estranho. Vamos em partes, Jack.
A longa pré-produção do filme foi
feita por Edgard Wright desde 2006. Wright conhecido pela Trilogia Cornetto
(Shaun of the Dead, Hot Fuzz e World’s End) além da sensacional adaptação de
Scott Pilgrim, era o responsável pela direção e roteiro do filme com seu
habitual parceiro Joe Cornish, do foda “Attack the Block”. Homem-Formiga, um
herói desconhecido do grande público, tinha diretor e roteiristas antes de
qualquer anuncio de datas de lançamento para Thor, Capitão América e os
próprios Avengers. O roteiro vem sendo trabalhando antes da estreia de Homem de
Ferro, minha gente. O que se sabe é que Kevin Feige, o manda-chuvas da Marvel
Studios, havia se apaixonado pelo “draft” feito por Wright anos antes.
Homem-Formiga ou Hank Pym, nos
quadrinhos, tem sua importância. Criado em 1962, possui relação direta com os
Avengers e é considerados um dos fundadores do grupo. É também responsável,
quem diria, pela criação do Ultron, esse mesmo que aparece em um filme
independente que estreia em maio.
A questão é que diminuto herói
nunca foi destaque no universo Marvel e nem chegou a ser um sucesso de vendas
nos quadrinhos. O diferencial, segundo o próprio Feige em janeiro de 2013, para
o filme estar sendo feito era a visão de Wright pelo o material. O diretor britânico,
no decorrer dos 8 anos de revisão de roteiro, pré-produção e produção do longa,
em momento algum demonstrava desconfiança no projeto, nas diversas entrevistas
dadas no período e participações nas Comic Cons em San Diego.
Depois da escalação de Paul Rudd
como o herói Scott Lang – o aprendiz, Michael Douglas como Pym, o mentor, tudo
parecia caminhar tranquilamente na nau Marvel. Até que...Wright, um fã confesso de Homem-Formiga, colecionador dos primeiros quadrinhos do herói, estava fora do
projeto.
Um baque para toda a comunidade nerd do mundo anunciado em 23 de maio
de 2014. Não exatamente pela relevância do Homem-Formiga em si, mas pelo
esforço de Edgard no projeto por 8 anos. É como um boleiro que joga todas as
partidas eliminatórias e na hora da escalação final para Copa do Mundo fica de
fora. A Marvel Studios, adorada por todos, foi pela primeira vez vilã na
história. Até Joss Whedon, o queridinho da casa das ideias, ficou do lado do corneto
boy.
Com a saída de Wright e
proximidade do inicio da produção do filme, Feige e cia foram a caça no
mercado. Depois de ser publicamente recusada por Adam Mckay dos maravilhosos “O
Âncora” e “Quase Irmãos”, através, pasmem, de um tweet de 31 de maio,
finalmente a Marvel em junho anunciou Peyton Reed como novo diretor. Um cara
que eu gosto bastante, especialmente, por “Abaixo ao amor” e “Sim, senhor”.
Contudo, o estrago já havia sido feito.
A produção perdeu vários
integrantes com a saída de Wright, inclusive seu diretor de fotografia, Bill
Pope e o responsável pela trilha do filme Steven Price. O atraso na produção
fez com que Patrick Wilson, ótimo ator com cara de vião da Marvel, partisse
também. O roteiro, alterado, por Mckay, Rudd e Reed, passou por mudanças
especialmente nas cenas de ação. Hmmmm.
O balanço feito da cagada toda e
lendo entrevistas de envolvidos, é que Wright tinha uma visão que agradava a
todos, cativando tanto estúdio como os atores. Só que, a palavra final é da
Marvel. Depois de diversos pedidos de novos drafts que visavam amenizar o
personagem Scott Lang – ladrão nos quadrinhos – para algo mais grandioso, vamos
dizer, mais heroico, a coisa pareceu desandar em 2014. Wright é conhecido por
seu humor corrosivo de comédias para maiores de 18 anos e defensor dos “pérrapados”.
Convenhamos nada muito similar ao universo Marvel.
O que sabemos é que Peyton Reed, os
dois Homens-Formigas além de Evangeline Lilly (eterna Kate) e Corey Stoll como
Jaqueta Amarela apareceram na Comic Con 2014 com sorriso amarelo. A produção
começou em agosto e única foto divulgada é de Rudd com olhar perdido para baia
de São Francisco, cidade onde se passa a história. Talvez uma foto não
simbolizasse tão bem um filme. Reed em seu twitter decretou o “wrap” da
produção em dezembro de 2014.
Mais do que um projeto que era
pessoal de Wright, o que aparenta é que, com sua saída inesperada, a Marvel não
possuía um plano B. Desnorteada, deu com os burros n'água (essa entrega a
idade) no mercado. Arrumou Reed, deu carta branca para Rudd e seus parceiros
inserirem piadas, cenas de ação e seja o que Deus quiser.
O que parecia algo diferente do
padrão Marvel, justamente pode simbolizar o primeiro fracasso no universo dos
heróis, desenhado desde 2008. Isso não quer dizer que problemas já ocorreram na
produção dos filmes nesses anos. Kenneth Branagh não teve vida fácil ao fazer
Thor, tanto é que não fora convidado ao retornar para a continuação. Petty
Jenkins seria a primeira diretora a fazer um filme Marvel e também levou um pé
na bunda na pré-produção. Alan Taylor, finalmente diretor de Mundo Sombrio, foi
afastado na edição final do filme. Dizem as más línguas que Whedon dirigiu
algumas cenas. Homem de Ferro 2 teve roteiro sendo refeito no momento da
filmagem e Edward Norton bateu de frente diversas vezes no Incrível Hulk.
Não sei se é coincidência, porém
todos os filmes citados acima, tido como problemáticos, estão abaixo da
qualidade Marvel. São filmes legais mas não chegam aos pés de Guardiões,
Avengers e Capitão América 2. O problema é que, no caso de Homem-Formiga, o
buraco é bem mais embaixo. A Marvel não é mais a mesma de 7 anos atrás. Os
holofotes estão voltados para ela.
Sem teaser, trailer ou qualquer
cena exibida para o público (na Comic Con apresentaram um pequeno trecho feito
especialmente para San Diego), o filme tornou-se uma incógnita. Além dos
percalços da produção, o que parece é que Homem-Formiga virou um filho bastardo
para Marvel.
Com estreia marcada para 17 de
julho, a ausência de divulgação da película chama muito a atenção. Os Avengers –
Era de Ultron, que sai em maio, agora em janeiro terá seu segundo trailer. Nós,
bem ou mal, já sabemos a temática de Civil War, com data de estreia para maio
de 2016 e nada do herói inseto. Aliás, Homem-Formiga foi rebaixado, meus caros.
Concebido como filme inaugural da fase 3 da Marvel nos cinemas, discretamente,
com o “line up” até 2020 divulgado, Scott Lang e sua turma ficaram com a missão
de fechar a fase 2, após o provável sucesso blockbuster de Avengers.
Com o sucesso de Guardiões da
Galáxia, personagens tão obscuros para o grande público como o pequenino, a
esperança da Marvel é que se consiga uma empatia pelo anti-herói. Tenho minhas
sinceras dúvidas.
Por incrível que pareça, o nome
não ajuda. Eu te pergunto caro leitor, que criança desse mundo, podendo ser
Thor, Homem de Ferro, Guardião da Galáxia (por mais irônico que seja a denominação
dada aos amigos de Star-Lord) pedirá aos pais a fantasia de uma formiga?! Nem
da atômica já vi. O público infanto-juvenil é fator decisivo para o $$$ nas
bilheterias e não vejo com força a vontade de um “di menor” abraçar a causa de
Lang.
Rudd também não ajuda. Por mais
que esteja nas telas há anos, o rapaz engraçado nunca conseguiu atrair
multidões para seus filmes. Gosto do cara mas nada demais, sabe? Vocês podem
argumentar “o Chris Pratt também é um desconhecido e olha o que deu, mané!”.
Tudo bem, mas o contexto é diferente. Pratt realmente nunca tinha estrelado um
filme como ator principal e trabalha em um série de TV assistida que não tem a audiência
de uma Big Bang Theory.
Porém Rudd já teve diversas
chances e podemos dizer que seu maior hit como ator principal foi “Eu te amo,
cara”, um filme pequeno para os padrões de Hollywood. Quando teve que segurar
as pontas em “Como Você Sabe” do mestre James L. Brooks (sou fã confesso), um rojão
de 120 milhões, a vaca foi pro brejo. O que quero afirmar é que o contexto de
Pratt é outro, com um filme muito mais ligado ao universo – literalmente – do que
Homem-Formiga. E Rudd, por mais que goste dele em filmes do Apatow e cia, não
tem o carisma suficiente para o grande público.
Falando em Apatow, pego como
exemplo o discípulo Seth Rogen. Esse já mais do que consagrado como estrela que
consegue bons lucros em bilheterias com comédias de baixo orçamento, vejam só, quando
brincou de filme de herói inseto, Besouro Verde, foi duramente criticado pela
crítica e público. Com orçamento de mais de 100 milhões de dólares, faturou um
pouco mais de 200, fechando no sufoco o filme no azul, Rogen considerou o filme
um pesadelo.
Sinceramente, se Homem-Formiga
faturar duzentinho, já estará valendo a pena. E olha que o filme de menor renda
da Marvel, desde 2008, é Incrível Hulk com 260 milhas. Para piorar, a
competição pela bilheteria não será fácil. No mesmo mês de julho, antes do
lançamento do inseto, Exterminador do Futuro e os Minions (sim, você tem dúvida
que isso fará sucesso?) estreiam. Formiga estreia junto Pan, adaptação do
clássico com Wolverine como Capitão Gancho. E você reclamando da sua vida,
hein.
Sem querer o profeta do
Apocalipse (insira risada maligna), Feige tem grandes chances de ter em suas
mãos uma bomba. Por mais que a divulgação e marketing estranhamente não tenham
iniciado – uma revistinha está para sair agora em janeiro – o que era para ser
um filme irreverente, já gastou grana e tempo suficiente da casa das ideias
para se achar graça em tudo isso. Como a própria Pixar, no quesito qualidade em
“Carros 2”, e porque não, a Apatow Productions na bilheteria em “A Vida é Dura:
A História de Dewey Cox”, é bom a Marvel se preparar e colocar as barbas de
molho. Por menor que seja, quem diria, uma formiga pode fazer um grande
estrago.
Boa sorte pessoal...
Atualizado 02/01/2015 - 15:14 - A Marvel, preocupada com o meu texto negativo (haha), informou que o trailer do Homem-Formiga vai aparecer no intervalo de Agent Carter, dia 06! Vamos aguardar.